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Amadeu Amaral e o mundo Caipira

Atualizado: 15 de mar.

Renzo Souza Santos [1]


Na esteira das lives que produzimos no canal do YouTube do Brasil Grande, trago um aspecto essencial não abordado com mais veemência naquele espaço.

Trago Amadeu Amaral e sua importância para o regionalismo linguístico precisamente focado na cultura Caipira. Nosso folclorismo é bem extenso e conta com autores como José de Alencar, Taunay, Franklin Távora, Júlio Ribeiro; novelas e contos, como os de José Veríssimo, Alcides Maya, Afonso Arinos, Gustavo Barroso, Valdomiro Silveira, Alberto Rangel, Monteiro Lobato, Godofredo Rangel, Lopes Neto, Cornélio Pires, Euclides da Cunha, Cascudo, Suassuna e tantos outros.

Nossa figura central é Amadeu Amaral, autodidata, dedicou-se à poesia aos estudos folclóricos e, sobretudo, à "dialetologia2".

No Brasil, foi o primeiro a estudar cientificamente um dialeto regional. O chamado "Dialeto Caipira", publicado em 1920, escrito à luz da linguística, ali buscava compreender o linguajar do caipira paulista precisamente da região do vale do rio Paraíba. Sua tese central concentra-se na dialetologia. Mas o que é isso? trata da divergência entre dois dialetos locais a partir de um ancestral comum, além de sua variação sincrônica. Em outras palavras, ela descreve comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço e lhe estabelece seus limites.

Essas variações podem ser estilísticas, variações geográficas, históricas e sociais. No caso de Amadeu o foco é social. As variações sociais, podem ser definidos uma vez que as sociedades humanas apresentam estratificação social, pessoas de um determinado grupo étnico, socioeconômico ou religioso. Para explicar Amaral na introdução do seu dialeto Caipira, o tempo em que o célebre falar paulista reinava sem contraste sensível, o caipirismo não existia apenas na linguagem, mas em todas as manifestações da nossa vida provinciana.

Com a substituição do braço escravo pelo assalariado afastou da convivência cotidiana dos brancos grande parte da população negra, modificando assim um dos fatores da nossa diferenciação dialetal. Para ele, os genuínos caipiras, os roceiros ignorantes e atrasados, começaram também a ser postos de banda, a ser atirados à margem da vida coletiva, a ter uma interferência cada vez menor nos costumes e na organização da nova ordem de coisas. A população cresceu e mesclou-se de novos elementos.

Construíram-se vias de comunicação por toda a parte, intensificou-se o comércio, os pequenos centros populosos que viviam isolados passaram a trocar entre si relações de toda a espécie, e a província entrou por sua vez em contato permanente com a civilização exterior. Por causa da instrução, limitadíssima, tomou extraordinário incremento. Era impossível que o dialeto caipira deixasse de sofrer com tão grandes alterações dos meios sociais da época, criou-se uma linguagem única, própria. Surgiram daí os ditos "vocábulos esdrúxulos" com a tendência para suprimir a vogal da penúltima sílaba e mesmo toda esta, fazendo grave o vocábulo: ridico = ridículo, legite = legítimo, cosca = cócega, musga = música.


[1] Licenciado em História pela UCSAL

[2] estudo sistemático dos dialetos feito a partir do levantamento de traços regionais de uma língua e de sua interpretação.


Bibliografia:

AMARAL, Amadeu. O Dialeto Caipira. Ed. Parábola Editorial, pág. 224. 2020.

AMARAL, Amadeu. As tradições populares. Ed. Instituto Progresso, pág. 418. 2009.

 
 
 

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