top of page

Ariano Suassuna e a história da arte da estética

Renzo Souza Santos1


Ariano Suassuana na sua obra: Iniciação a estética, percorre a história da arte na busca de compreender a posição de alguns grandes filósofos como: Platão, Kant e Hegel.


A estética em Platão e Aristóteles:


Suassuna inicia a discussão na Grécia clássica, para ele Platão via a Arte toda como representação fenômenica intrelacado com os arquétipos do mundo supralunar. Em Platão o processo do conhecimento é a dialética, que pode ser ascensional ou sinoca (remontar do mundo sensivel as Ideias) e descensional ou dialética (partir das ldeias gerais para descer as particulares).

Platão encara a arte como uma expressão metafísica. O mundo é copia da Ideia, e a arte é copia do mundo, segue-se que a arte é cópia de uma cópia, imitação de uma imitação e, portanto, afastamento do verdadeiro. A verdadeira beleza nao deve ser procurada na estética, mas na erótica. A doutrina do amor platônico e, com efeito, e o "amor estreitamente ligada à busca do Uno, que em nivel sensivel, platônico" se manifesta como Belo porque o mundo sensível não passaria, em última análise de mera sombra do primeiro.

Já em Aristóteles a arte pode ser definida como: “Algumas coisas que a natureza não sabe fazer, a arte faz; outras, ao contrário, ela imita.”

Logo, há artes que completam e integram de algum modo a natureza e, portanto, têm como fim a mera utilidade pragmática; e artes que, ao contrário, “imitam” a própria natureza, reproduzindo ou recriando alguns de seus aspectos com material moldável, com cores, sons ou palavras, e cujos fins não coincidem com os fins da mera utilidade pragmática. São estas as chamadas “belas-artes”, objeto de Aristóteles na Poética.

Portanto, o espírito, ao ser movido pela Beleza, normalmente se põe a refletir sobre aquilo que viu e lhe causou prazer. A Arte é, mais, um depoimento do mundo, contido numa outra realidade, transfigurada. A realidade contém verdades tão altas e nobres quanto as que o idealismo pressente, transferindo-as porém exclusivamente para o mundo superior das essências. A beleza de um objeto é modelado por uma causa eficiente, um arquiteto por exemplo imprime uma forma (causa formal) a uma pedra (causa material) com uma certa finalidade de criar uma estátua. A beleza surge a partir desse processo.

Por sua vez, Suassuana discute a estética em Kant, saudoso filósofo alemão. Aqui o campo estético é subdividido: o Belo não ocupava mais, isolado, todo esse campo; era somente uma de suas categorias o Belo e o Sublime como juízos. Kant, em vez de tentar a solução dos problemas estéticos, entre os quais se destacam o da Beleza e o da Arte, tratou de demonstrar que eles eram quase insolúveis. Dessa impossibilidade de resolver os problemas estéticos adviria, em primeiro lugar, da diferença radical existente entre os juízos estéticos (ou juízos de gosto), e os juízos de conhecimento.

Portanto, em Kant, os juízos de conhecimento emitem conceitos que possuem validez geral, por se basearem em propriedades do objeto. Quando dizemos que “Esta rosa é branca”, estou emitindo um juízo de conhecimento: o resultado dele é um conceito indiscutível, válido para todo mundo, de validez geral, porque baseado em propriedades objetivas da rosa. Agora os juízos estéticos não emitem conceitos: pois eles decorrem de uma simples reação pessoal do contemplador diante do objeto, e não de propriedades deste.

Por isso, quando eu digo “Esta rosa é bela”, este juízo exprime somente o fato de que tal rosa me agrada; daí que eu não posso exigir, para ele, como para o outro, o assentimento, a concordância geral, validade geral para aquilo que é resultado de uma simples reação pessoal minha pessoa. Nas palavras de Suassuana, Kant dizia que: “O conteúdo do juízo estético é a reação do sujeito, e não a propriedade do objeto. Esta rosa agrada, tal seria a forma adequada desse aspecto do juízo estético.”

Por fim, temos outro alemão, que é Hegel. Como explica Suassuana em Hegel; “a unidade da Ideia e da aparência individual é a essência da Beleza e de sua produção na Arte”.

Em outras palavras se estivermos atentos para o fato de que a Ideia, em Hegel, é o mesmo que o Infinito ou o Absoluto, em autores idealistas como Schelling, veremos que tanto faz definir a Beleza como “o Infinito representado através do finito” ou como “a Ideia representada através do sensível”. Hegel dessa forma, aceita o fundamento platônico da explicação da Beleza, dizendo:

“A Beleza... é um certo modo de exteriorização e representação da Verdade daí que pois, no seu pleno significado, as palavras de Platão: deve-se considerar, não os objetos particulares qualificados como belos, mas a Beleza. “Estética”, “A Ideia e o Ideal”, e “O Belo Artístico, ou O Ideal”.

Mas, Hegel vai mais além, segundo Suassuna, Hegel intercala em uma tríade dialética Arte, a Religião e a Filosofia como etapas fundamentais neste caminho do homem à procura do Absoluto. Dessa forma, à Arte cabe a espiritualização do sensível. Já a Religião, compete a captação interior daquilo que a Arte faz contemplar como objeto exterior. É como se a primeira representasse a tese, da qual a segunda seria a antítese, cabendo à Filosofia o papel de síntese entre as duas: “A Arte e a Religião estão unidas na Filosofia”.

Arte é o escalão através do qual, nesse processo de espiritualização do mundo, o homem procura humanizar as coisas, inserindo a Ideia no sensível. Ja o espírito religioso, cabe criar as condições necessárias de interioridade, para que o homem possa acolher dentro de si a Ideia, captada no sensível, onde a Arte a introduziu. Daí resulta, dentro do espírito humano, uma oposição final entre o que existe de mais nobre e puro no homem, e o sensível, mesmo espiritualizado, que lhe foi oferecido pela Arte.

Por fim, à Filosofia como a superação ou do alemão"Aufhebung" superando a contradição dialética e a oposição, o que ela faz sendo uma espécie de síntese conciliatória entre a Arte e a Religião.


1 Licenciado em História pela UCSAL


Bibliografia:

FLORENSKY, Pavel. El inconostasio, una teoria de la estetica. Ed. Ediciones Sígueme, S. A.; 1ª ed., pág. 226, 2018.

INWOOD, Michael. Dicionario de Hegel. Ed. Zahar, pág. 363, 1997.

KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Ed. Forense Universitária; 3ª ed., pág. 390, 2012.

REALE, Giovanni. Introdução a Aristóteles. Ed. Contraponto; 1ª ed., pág. 238, 2012.

REALE, Giovanni. Para uma nova interpretação de Platão. Ed. Edições Loyola; 2ª ed., pág. 640, 1997. SUASSUANA, Ariano. Iniciação à estética. Ed. Nova Fronteira; 17ª ed., pág. 320, 2023.

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Não é mais possível comentar esta publicação. Contate o proprietário do site para mais informações.
bottom of page