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Autonomia Energética: Como blindar o Brasil da crise

Atualizado: 23 de jul.

Jean Silas Prates Gonçalves1


Olá! Meu nome é Jean Silas, e este é o segundo artigo de uma série de textos dedicados à autossuficiência energética do Brasil. Você pode conferir o primeiro texto, sobre o recente apagão europeu, aqui [1].

A segurança energética é crucial para a soberania e o desenvolvimento sustentável de qualquer nação. Em um cenário global volátil, a capacidade de um país suprir suas próprias necessidades energéticas com recursos e tecnologias nacionais é estratégica. O Brasil, com sua matriz energética diversificada e foco em energia química, constrói uma autonomia robusta que o protege de choques externos. Este artigo explora como biocombustíveis, a produção crescente de gás natural nacional e o promissor desenvolvimento de baterias nacionais são pilares à resiliência energética brasileira. Analisando lições de apagões e políticas proativas, o Brasil avança na soberania energética, liderando a transição para um futuro mais seguro.

A autossuficiência energética do Brasil é um tema de crescente importância no cenário global. Neste artigo, exploraremos os pilares da crescente resiliência energética do Brasil, abordando as lições de apagões passados, a importância dos biocombustíveis como ativo nacional, o papel estratégico do gás natural nacional e os avanços em baterias nacionais. Cada área será examinada para mostrar como a inovação e o uso de recursos próprios pavimentam o caminho para a autonomia energética plena.



1. Autonomia energética: Brasil e soberania nacional


O cenário energético global é complexo. Conflitos geopolíticos, flutuações de preços e desafios ambientais podem gerar crises com impactos sistêmicos. Nesse contexto, a segurança do suprimento energético é um pilar da soberania nacional e da estabilidade econômica. A autonomia energética significa a habilidade de um país suprir suas demandas com recursos e tecnologias sob seu controle, minimizando dependências.

O Brasil se destaca nesse sentido, usando sua riqueza natural e capital intelectual para forjar uma "química da autonomia". Essa expressão reflete a importância das transformações moleculares e do armazenamento de energia em combustíveis e baterias, que são a espinha dorsal da resiliência energética brasileira.

     A matriz energética do país em 2023 é diversificada: 57% de fontes não renováveis e 44% de fontes renováveis, um balanço mais renovável que a média mundial [2].



2. Lições de apagões: segurança energética, Brasil em tempos de crise


     A história energética do Brasil é marcada por desafios no fornecimento de eletricidade que se traduziram em diversos "apagões". Esses eventos não só interromperam a rotina, mas causaram prejuízos bilionários, expondo vulnerabilidades [3].

     A crise de 2001, por exemplo, foi um marco. Causada por seca, falta de investimentos e planejamento, levou a um racionamento nacional. As perdas foram estimadas em R$ 45,2 bilhões. Desde então, o país enfrentou blecautes notáveis: Rio de Janeiro e Espírito Santo (2005, 2007); 18 estados (2009) devido ao desligamento de Itaipu; quase todo o Nordeste (2011); e falhas sucessivas (2012-2015) em diversas regiões. O apagão mais recente e abrangente, em agosto de 2023, resultou de uma falha em linha de transmissão, afetando 25 estados e o Distrito Federal. A interrupção durou horas, paralisando indústrias e serviços [3].      O apagão de 2023 destacou a vulnerabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) a falhas, exigindo redundância e resposta rápida. Isso aponta para a necessidade de investimentos em smart grids (redes elétricas que incorporam tecnologias de informação e comunicação para monitorar e gerenciar o fluxo de eletricidade de maneira mais eficiente, confiável e sustentável) e sistemas de proteção avançados, que incluem o uso de sensores, medidores inteligentes e sistemas de comunicação para otimizar a distribuição de energia, reduzir perdas e permitir que os consumidores participem ativamente do sistema.

     A crise hídrica de 2020-2021 foi outro teste severo [4]. Com a pior sequência hidrológica em 91 anos o governo implementou medidas excepcionais para evitar o colapso, intensificando o despacho termelétrico e a importação de energia [5]. A participação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no relatório "Lições Aprendidas" dessa crise [4, 5] mostra a compreensão intersetorial da segurança energética. Em crises elétricas, a capacidade de usar combustíveis não elétricos (gás natural para termelétricas, diesel para geradores) é vital. A "química da autonomia" se manifesta na conversão de energia química desses combustíveis em elétrica, garantindo a continuidade.      O Ministério de Minas e Energia (MME) enfatiza a cooperação para modernizar o setor elétrico, buscando competitividade e confiabilidade [6]. As discussões estratégicas visam planejar a transição energética e assegurar o suprimento. A experiência dos apagões reforça que a resiliência do Brasil se constrói com um sistema robusto, integrando diversas fontes e tecnologias, incluindo soluções de armazenamento e combustíveis químicos nacionais, para mitigar riscos.


3. Biocombustíveis Brasil: liderança global em energia limpa


     O Brasil é líder mundial na produção e uso de biocombustíveis, fruto de décadas de investimento em P&D (2) e políticas públicas. Essa vanguarda é baseada na química que transforma biomassa em energia limpa e renovável.

     O etanol é produzido pela fermentação da cana-de-açúcar (ou milho). Como substituto da gasolina, é renovável e reduz significativamente as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). Quimicamente, o etanol oferece combustão mais limpa e melhor desempenho do motor, com maior octanagem. Não gera óxidos de enxofre e as emissões de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio são menores que as da gasolina [7].

     O biodiesel é produzido de óleos vegetais ou gorduras animais via transesterificação (processo químico que envolve a troca de grupos alcóxidos (3) em um éster (4) por outro álcool, resultando em um novo éster e um novo álcool). Pode ser usado em motores a diesel, sendo mais ecológico e biodegradável. A transesterificação superou problemas operacionais de óleos vegetais em motores diesel [7].

     A contribuição dos biocombustíveis na matriz energética brasileira é notável. Em 2023, derivados da cana (principalmente etanol) representaram 17,5% da matriz total [2]. No transporte, o consumo energético cresceu 2,6% ao ano (2000-2023), com fontes renováveis crescendo 5,1% ao ano [8], impulsionado por incentivos, veículos flex fuel (5) e aumento do teor obrigatório de etanol e biodiesel.

     A participação dos biocombustíveis no transporte evoluiu: em 2000, etanol e biodiesel eram 12% e 0%; em 2023, 17% e 5% [8]. Projeções indicam que biocombustíveis líquidos ampliarão sua participação no transporte para cerca de 28% em 2034 [8]. Esse crescimento é vital para reduzir a dependência de fósseis importados, fortalecendo a autonomia energética do Brasil.

     O sucesso dos biocombustíveis no Brasil está ligado a políticas públicas robustas. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), criado em 2003, evitou 240 milhões de toneladas de CO2 e gerou economia de US$ 38 bilhões em importação de diesel [9]. O mandato6 de mistura é chave: 14% de biodiesel no diesel comercial, com previsão de 15% em 2025 [7, 9].

     A estratégia brasileira de biocombustíveis é pilar de política industrial e ambiental, moldando a matriz via mandatos de mistura e mecanismos como o RenovaBio [7, 10]. Essa abordagem regulatória proativa, contrastando com dependência de flutuações de mercado, confere ao Brasil uma autonomia energética robusta. A obrigatoriedade da mistura e os CBios (7) do RenovaBio (Lei Nº 13.576/2017) garantem demanda interna estável à produção nacional de biocombustíveis, protegendo o país da volatilidade dos preços globais de fósseis [7, 10]. Isso assegura que a indústria nacional não esteja à mercê do mercado internacional de petróleo, criando uma base sólida para a produção e suprimento energético nacional.

     A Lei Nº 14.933/2024, a Lei do Combustível do Futuro, promove o aumento de biocombustíveis. Impulsiona o biometano, produzido de resíduos orgânicos, que substitui fósseis, reduz GEE e fomenta a economia circular [9, 10]. O incentivo ao biometano de resíduos orgânicos indica uma evolução para bioeconomia circular. Isso diversifica fontes, agrega valor a subprodutos, e cria mais segurança energética e sustentabilidade ambiental, fortalecendo a "indústria verde" nacional. Essa abordagem permite ao Brasil gerar energia de múltiplas fontes domésticas, aumentando a resiliência da matriz de biocombustíveis e reforçando a soberania energética.

     Além dos benefícios ambientais, o setor de biocombustíveis gera empregos e estimula a economia rural [7]. No transporte rodoviário e de cargas, são vitais. Embora o diesel seja a principal fonte, o etanol hidratado deve recuperar sua participação, deslocando a gasolina [8]. A eletrificação veicular ainda enfrenta desafios no Brasil (preços altos, falta de indústria de baterias em larga escala, infraestrutura de recarga incipiente). Isso favorece a hibridização (HEV) – um tipo de carro que combina um motor a combustão interna (gasolina ou diesel) com um motor elétrico e uma bateria – no curto e médio prazo, mantendo a relevância dos biocombustíveis líquidos para a autonomia do transporte [8].


4. Gás natural pré-sal: a força da produção nacional

Foto de uma plataforma de petróleo feita por Gabriel Xavier na Unsplash

     O gás natural é cada vez mais estratégico na matriz energética brasileira, impulsionado pela exploração do pré-sal. Essa camada geológica é uma fonte substancial de hidrocarbonetos, com o gás natural sendo um produto valioso da Petrobras [11]. O potencial de crescimento da produção nacional é expressivo [12], com projeções de quase 100% de aumento na oferta nacional entre 2024 e 2034. Para sustentar essa expansão, a ANP projeta investimentos bilionários [13], podendo superar R$ 609 bilhões na produção de petróleo e gás entre 2025 e 2029, com cerca de R$ 140 bilhões esperados só em 2025.

     O crescimento projetado na oferta de gás natural nacional, impulsionado por investimentos e o pré-sal sinaliza uma transição para crescente autossuficiência. Essa mudança fortalece a segurança do suprimento para a geração termelétrica, crucial em crises hídricas, e posiciona o gás nacional como vetor de desenvolvimento industrial e de transporte. A redução da vulnerabilidade a choques de preços é uma consequência direta dessa maior autossuficiência.

     Os usos estratégicos do gás natural no Brasil são diversos. Na geração termelétrica, a demanda por gás acompanhará a expansão da matriz elétrica, atuando como complemento flexível a renováveis intermitentes [12]. No setor industrial, o gás natural tem sido o maior consumidor, respondendo por cerca de 50% do total na última década [14]. No transporte, o Gás Natural Veicular (GNV) é o segundo maior consumidor não termelétrico, cerca de 8% da demanda nacional [14]. Além disso, é usado em residências para aquecimento e fogões [11]. A demanda por gás natural nos setores residencial, comercial e industrial deve crescer 37,5% nos próximos dez anos [12].

     As projeções de demanda e investimentos reforçam a visão estratégica do Brasil. A demanda total de gás natural na rede integrada deve crescer 5% ao ano na próxima década [14]. Projetos próximos de operação somam R$ 14 bilhões; indicativos, mais de R$ 140 bilhões [12].

     O programa "Novo Mercado de Gás", busca aumentar a competitividade do gás natural e dobrar a demanda até 2030, indicando uma visão de longo prazo para o gás como combustível de transição e pilar para reindustrialização e descarbonização [12]. A conversão de geradores a diesel e indústrias para gás natural é otimização da matriz, aproveitando um recurso nacional abundante para ganhos de eficiência e redução de emissões. A "química da autonomia" se manifesta na capacidade de substituir combustíveis importados (diesel, óleo combustível) por um recurso fóssil nacional mais limpo, otimizando a cadeia de valor e reduzindo a pegada de carbono. Isso aumenta a autonomia de suprimento, e também a autonomia tecnológica e econômica, impulsionando a modernização da indústria e a diversificação da matriz de consumo de energia primária.

     Comparativamente, a situação do Brasil em relação ao gás natural contrasta com a dependência de grandes economias. A Europa, por exemplo, enfrenta crises de dependência do gás russo [15] e do Gás Natural Liquefeito (GNL) dos EUA [16]. O Brasil, com seu aumento projetado na produção nacional e exploração de vastas reservas demonstra uma trajetória de fortalecimento da autonomia energética que o diferencia de regiões vulneráveis a choques externos. Essa capacidade de suprir a maior parte de sua demanda interna com produção própria confere ao Brasil maior estabilidade e segurança energética.


5. Desenvolvimento de baterias nacionais: inovação e independência tecnológica


     O armazenamento de energia é vital para a segurança energética e a integração de renováveis intermitentes. O Brasil foca no desenvolvimento de baterias nacionais buscando soberania tecnológica e redução da dependência de cadeias de suprimento globais.

     Um dos avanços mais promissores é em baterias de íons de sódio. Essa tecnologia é alternativa estratégica às de íons de lítio, devido à abundância global do sódio, que elimina a mineração e transporte caros do lítio [17]. Pesquisas estão em andamento na Unicamp, lideradas pelo Prof. Dr. Hudson Giovani Zanin [17]. Essa iniciativa demonstra compromisso com a inovação que pode redefinir a cadeia de valor das baterias no país.

     O foco em materiais abundantes localmente, como o sódio, ou minerais onde o Brasil já tem vantagem (nióbio e grafeno), representa uma aposta estratégica na soberania tecnológica. Ao investir em P&D para tecnologias alternativas com recursos acessíveis o país busca controlar a cadeia de valor da bateria, da matéria-prima à fabricação, fundamental para a autonomia energética e industrial. Pesquisas com nióbio [18, 20, 21] e grafeno [19, 20, 21] para baterias também estão em andamento, explorando o potencial desses materiais locais.

     O Brasil possui vasto potencial em recursos minerais para uma cadeia de valor de baterias nacional. Além do lítio no vale do Jequitinhonha, há outros minerais essenciais [22]. Para fomentar a fabricação doméstica, o governo implementou iniciativas como o PPB (Processo Produtivo Básico) para BESS (Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias), oferecendo reduções de impostos (IPI e 6 ICMS) para empresas que aderem à produção nacional [22]. A PNMCE (Política Nacional para Minerais Críticos e Estratégicos) busca classificar minerais como lítio, níquel e grafite como estratégicos, concedendo benefícios fiscais a projetos que desenvolvam esses recursos [22].

     Os sistemas de armazenamento em baterias (BESS) têm aplicações estratégicas no planejamento energético brasileiro. Sua versatilidade e resposta rápida são cruciais para o setor elétrico [22]. São fundamentais para mitigar a intermitência de fontes renováveis (eólica, solar...), armazenando o excesso de geração para uso posterior e aumentando a capacidade firme. Isso também permite receita por arbitragem de preços, injetando energia excedente em horários de pico. O BESS também podem fornecer energia para locais isolados (off-grid) [22]. Além disso, fornecem serviços ancilares (serviços adicionais que auxiliam no bom funcionamento do sistema elétrico como controle de frequência, tensão e sincronismo), vitais para a segurança operacional do sistema elétrico [22, 23]. Em algumas situações, baterias podem ser alternativa estratégica à expansão da transmissão, aliviando sobrecargas e adicionando confiabilidade à rede [23].

     Apesar do potencial, o mercado de baterias no Brasil enfrenta desafios regulatórios, tecnológicos e de mercado. O arcabouço regulatório para sistemas de armazenamento de energia ainda está em desenvolvimento, precisando de modernização para caracterizar e remunerar os serviços das baterias [22, 23].

     A regulamentação atual não remunera explicitamente os serviços ancilares, e as baterias competem com hidrelétricas, que já fornecem muitos serviços [23]. Essa dualidade entre desafios regulatórios e iniciativas governamentais aponta para uma lacuna na política energética. Para que o potencial das baterias nacionais se materialize em autonomia energética, é imperativo que o arcabouço regulatório se modernize para criar sinais de mercado claros e incentivos econômicos que alinhem os objetivos de segurança de suprimento com o fomento da indústria doméstica, superando a inércia do modelo hidrelétrico dominante. Sem reforma regulatória, as iniciativas de fabricação nacional podem ter dificuldade em escalar.

     Adicionalmente, o alto custo de importação de sistemas de baterias de lítio (impostos podem aumentar o preço em 74%) é uma barreira significativa [24]. Simulações indicam que sob as regras atuais da Lei nº 14.300, investir em baterias para autossuficiência fotovoltaica não é viável economicamente no horizonte decenal, mas isso pode mudar após 2029, quando a energia injetada na rede será valorizada por seus custos e benefícios reais [24].


6. Conclusão: rumo à plena autonomia energética brasileira


     A jornada do Brasil rumo à autonomia energética é um testemunho da capacidade de transformar desafios em oportunidades estratégicas. A análise demonstra como a sinergia entre o aprendizado com apagões históricos, o avanço dos biocombustíveis, a exploração do gás natural nacional e o desenvolvimento de baterias domésticas constrói um ecossistema de resiliência energética que reduz a vulnerabilidade do país a crises externas.      As lições dos apagões que expuseram a fragilidade da infraestrutura e a necessidade de flexibilidade, pavimentaram o caminho para uma compreensão mais profunda da segurança energética. A inclusão de combustíveis não elétricos no planejamento de contingência, como gás natural e diesel para geradores ilustra uma abordagem intersetorial vital para a resiliência nacional.

     Os biocombustíveis representam um orgulho nacional e um pilar fundamental dessa autonomia. A química por trás do etanol e do biodiesel, aliada a políticas proativas como o RenovaBio e a Lei do Combustível do Futuro tem garantido demanda interna estável, blindando o setor contra a volatilidade dos preços globais de combustíveis fósseis. A evolução para uma bioeconomia circular, com a produção de biometano a partir de resíduos, agrega sustentabilidade e diversificação de fontes, fortalecendo a "indústria verde" brasileira.

     O gás natural nacional, especialmente do pré-sal, projeta o Brasil para crescente autossuficiência. Os investimentos bilionários e as projeções de quase dobrar a oferta nacional até 2034 posicionam o gás como vetor crucial à estabilidade da geração elétrica e para o desenvolvimento industrial e de transportes, contrastando com a dependência de grandes economias. O "Novo Mercado de Gás" visa otimizar o uso desse recurso nacional, impulsionando a modernização da indústria e a descarbonização.

     Por fim, o desenvolvimento de baterias nacionais, com foco em tecnologias como as de íons de sódio e o aproveitamento de minerais estratégicos como nióbio e grafeno sinaliza uma aposta à soberania tecnológica. Embora desafios regulatórios e de mercado persistam, as iniciativas governamentais para fomentar a fabricação doméstica e as aplicações estratégicas dessas baterias na integração de renováveis e na provisão de serviços ancilares são cruciais à flexibilidade e a resiliência da matriz energética.

     Para o fortalecimento contínuo da segurança energética, resiliência e sustentabilidade da matriz brasileira, as seguintes recomendações estratégicas são apresentadas:


• Acelerar a modernização regulatória: Criar um ambiente de mercado que valorize e remunere explicitamente os serviços de flexibilidade e armazenamento oferecidos por tecnologias como as baterias. Isso significa desenvolver mecanismos de mercado para serviços ancilares e capacidade firme que permitam a competição justa entre todas as fontes e tecnologias, superando a inércia do modelo hidrelétrico dominante [22, 23].


• Investir em P&D e cadeia de valor nacional: Fomentar a pesquisa e desenvolvimento em novas químicas de baterias (sódio-íon) e a industrialização de componentes e sistemas. Capitalizar sobre os recursos minerais locais (lítio, nióbio, grafeno) para estabelecer uma cadeia de valor nacional que reduza a dependência de importações e fortaleça a soberania tecnológica [17, 22].


• Consolidar políticas de incentivo aos biocombustíveis: Manter e aprimorar programas como o RenovaBio e a Lei do Combustível do Futuro. Incentivar à bioeconomia circular e o biometano a partir de resíduos, para diversificar as fontes e agregar valor a subprodutos, aumentando a resiliência do setor [9, 10].


• Otimizar a infraestrutura de gás natural: Garantir o escoamento e a distribuição eficiente do gás do pré-sal. Aprofundar a integração do gás natural nos setores industrial e de transportes, por meio de incentivos e infraestrutura adequada que contribuirá à substituição de combustíveis 7 mais poluentes e para a modernização da base industrial do país [12, 14].


• Fortalecer a resiliência da rede elétrica: Investir continuamente em tecnologias de smart grids, sistemas de proteção avançados e soluções de armazenamento distribuído para mitigar impactos de futuros apagões. A capacidade de isolar falhas e restaurar o suprimento rapidamente é tão importante quanto a capacidade de geração [3, 6].


     As perspectivas futuras para o Brasil na área energética são promissoras. A pesquisa e a inovação química são motores fundamentais para a soberania energética, permitindo o desenvolvimento de combustíveis mais eficientes, materiais avançados e processos mais sustentáveis. Ao continuar investindo em suas fontes de energia química e em tecnologias de armazenamento nacionais, o Brasil não apenas protegerá sua economia e sociedade contra turbulências energéticas globais, mas também se consolidará como um líder global na transição energética, exportando conhecimento, tecnologia e um modelo de desenvolvimento energético mais seguro e sustentável.



Notas de Rodapé:


(1) Jornalista, amante de esportes e que atualmente utiliza seus conhecimentos de escrita em prol do nacionalismo brasileiro.


(2) Pesquisa e Desenvolvimento.


(3) Base conjugada de um álcool e consequentemente consiste em um grupo orgânico a um átomo de oxigênio negativamente carregado. Eles podem ser escritos como RO-, onde R é o substituinte orgânico. Alcóxidos são bases fortes e, quando R não é volumoso, bom nucleófilo e bom ligante. Alcóxidos, embora geralmente não estáveis em solventes próticos tais como água, ocorrem largamente como intermediários em várias reações, incluindo a síntese de éter de Williamson. Alcóxidos de metais de transição são amplamente usados para revestimentos e como catalisadores.


(4) Na química, a função éster é caracterizada pela estrutura R-COOR'. Os ésteres carboxílicos apresentam uma alcoxila ligada à uma carbonila e são usualmente resultantes de uma reação entre álcoois (em alguns casos, fenóis) e ácidos carboxílico, e o resultado é a substituição de um átomo de hidrogênio presente na carboxila (-COOH) dos ácidos carboxílicos por um grupo alquila (R) ou arila (Ar).


(5) Veículo flex (em inglês: flexible-fuel vehicle -FFV-) ou veículo de combustível duplo (em inglês: dual-fuel vehicle) está equipado com um motor de combustão interna a quatro tempos (Ciclo Otto) que tem a capacidade de ser reabastecido e funcionar com mais de um tipo de combustível, misturados no mesmo tanque e queimados na câmara de combustão simultaneamente.


(6) Da obrigatoriedade legal de misturar um determinado percentual de biocombustível (como etanol ou biodiesel) a combustíveis fósseis (gasolina ou diesel).


(7) Crédito de Descarbonização.


Referências:

[1]. Disponível em: https://www.brasilgrande.org/post/apag%C3%A3o-na-europa-oalerta-crucial-para-o-brasil-e-a-urg%C3%AAncia-do-g%C3%A1s-natural-e-daenergia-nuclear

[2.] Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/matrizenergetica-brasileira-em-2023-e-a-mais-renovavel-em-40-anos

[3]. Disponível em: https://www.poder360.com.br/energia/apagao-de-2023-e-o-maiordesde-2009-veja-historico-de-blecautes-no-brasil/

[4]. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/mme-apresentabalanco-da-gestao-da-crise-hidrica-de-2020-2021

[5]. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/documentos-epublicacoes/publicacoes/relatorios/relatorio-do-gt-licoes-aprendidas-com-a-crishidrica-2020-2021

[6]. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/mme-e-setoreletrico-discutem-futuro-e-modernizacao

[7]. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-deconteudo/publicacoes/boletins-anp/boletim-de-combustiveis-renovaveis-edicao-6

[8]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/plano-decenal-de-expansao-de-energia-pde-2032

[9]. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/mme-comemoraavancos-dos-biocombustiveis-no-brasil-com-aprovacao-da-lei-do-combustiveldo-futuro

[10]. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-deconteudo/publicacoes/boletins-anp/boletim-de-combustiveis-renovaveis-edicao-6 (informação na página 12 do PDF) 8 em: https://petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais

[11]. Disponível operacoes/pre-sal-gas/

[12]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/plano-decenal-de-expansao-de-energia-pde-2032 (informações nas páginas 101, 104, 110 do PDF)

[13]. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/documentos-epublicacoes/noticias/anp-projeta-mais-de-r-609-bilhoes-em-investimentos-paraa-producao-de-petroleo-e-gas-no-brasil-entre-2025-e-2029

[14]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/plano-decenal-de-expansao-de-energia-pde-2032 (informação na página 104 do PDF)

[15]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/NTEfeitos%20da%20guerra%20na%20Europa%20e%20o%20mercado%20de%20 G%C3%A1s%20Natural.pdf

[16]. Disponível em: https://www.poder360.com.br/energia/europa-substitui-gas-russopor-gnl-dos-eua-e-fica-com-nova-dependencia/

[17]. https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2023/10/05/baterias-de-ions-de-sodiopodem-ser-alternativa-estrategica-para-mobilidade-e-armazenamento-de

[19]. Disponível em: em: Disponível em: https://www.finep.gov.br/noticias/todasnoticias/6468-bateria-inovadora-a-base-de-grafeno-e-desenvolvida-no-brasil

[20]. Disponível https://www.ufmg.br/colunistas/noticias/noticia-baterias-degrafeno-niobio-e-litio-o-que-o-brasil-pode-aproveitar-em-sua-matriz-energetica/

[21]. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/mme-participade-seminario-e-ressalta-potencial-do-niobio-e-grafeno-na-transicao-energetica

[22]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/cadernos-de-baterias-para-sistemas-eletricos-de-potencia (informações nas páginas 11, 29, 32 do PDF)

[23]. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dadosabertos/publicacoes/cadernos-de-baterias-para-sistemas-eletricos-de-potencia (informações nas páginas 23, 36 do PDF)

dadosabertos/publicacoes/cadernos-de-baterias-para-sistemas-eletricos-de-potencia (informações nas páginas 24, 38 do PDF)


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