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Historiadores conservadores do Brasil: cinco clássicos.

Renzo Souza Santos1


Manuel Oliveira Lima

Nascido no Recife em 25 de dezembro de 1867, filho de comerciante português ligado pelo casamento aos senhores de engenho de Pernambuco. Estudou no Colégio dos Lazaristas e no Liceu Nacional nos anos de 1881 onde adquiriu desde muito jovem o interesse pelos estudos históricos, manifestado em seus primeiros artigos publicados na imprensa. Seguiu-se o ingresso no Curso Superior de Letras de Lisboa. Suas obras constituem um registro notável do campo político e cultural da Primeira República, visto a partir de sua trajetória na diplomacia. Os principais rumos da política externa na época consistiram em redefinição de relações com os Estados Unidos e com a promoção do comércio do açúcar e do café, além do provimento do braço imigrante para a lavoura cafeeira com a Europa. Sua visão enfática tratava de estabelecer novas relações com os imperialismos em disputa e inserir o país em sistemas de crédito capazes de garantir a viabilidade financeira da nascente República Brasileira. Mas, sua principal nota está na análise que ele faz entre as relações do Brasil com as demais repúblicas latino-americanas, as questões de delimitação territoral, nações que reclamavam solução para contenciosos de fronteiras que diziam respeito à nova configuração nacional.

Serafim Leite

Outra figura de destaque, mas muitíssimo pouco lembrado, nascido em São João da Madeira em Portugal, foi um um historiador de época, padre jesuíta, poeta, escritor e historiador que basicamente se tornou brasileiro. Serafim se destaca pela sua magnífica redação de: A Companhia de Jesus no Brasil, trabalho ambicioso publicado em 10 volumes entre os anos de 1938 e 1950. Em resumo, sua visão de História deve ser compreendida a partir dos pressupostos da historiografia tradicional, de inspiração de um Ranke2. Seu método de pesquisa coincide com a análise filológica das fontes primárias, em função da qual se pode fazer "referência ao passado" tal como ele realmente aconteceu. Nesse caso, o termo realmente se opõe à inautenticidade dos documentos e às incoerências e contradições presentes em um determinado conjunto de fontes primárias, Serafim nesse caso narra a história, sem tentar tergiversar sobre questões mais profundas de sua subjetividade. José Honório Rodrigues

Um construtor de método, um dos fundadores da historiografia brasileira, José Honório Rodrigues nascido em 1913 pertenceu a uma geração de autores bastante ativos e engajados na renovação e profissionalização dos estudos históricos no Brasil. Para ser bem sincero, sua trajetória intelectual se confunde com as próprias transformações da historiografia brasileira no século XX. Para citar os trabalhos mais conhecidos de Rodrigues são as magníficas obras como: A historiografia e bibliografia do domínio holandês no Brasil de 1949 e Teoria da história do Brasil do mesmo ano. Sua obra prima é a Teoria da história do Brasil.Em síntese, ele visava sistematizar o que considerava as etapas e os cuidados para se produzir um texto de história que pudesse ser conhecido e reconhecido como plenamente científico, profissional e especializado. Nessa linha, Rodrigues possuía central alinhamento com filósofos como do idealismo de Heinrich Rickert, no conceitualismo típico de um Max Weber e na função hermenêutica exegética de um Wilhelm Dilthey. Para ele seria necessário formular abstrações conceituais ou instrumentos de análise mais heurísticas, algo que pudessem dar conta da especificidade dos "fenômenos históricos" mais singulares, como: conceito dos traços da individualidade histórica, extremamente minucioso. Além disso, reivindicava uma história mais rigorosa e, portanto, dedicada à pesquisa documental especializada às inovações factuais e metodológicas que julgava imprescindíveis para a renovação.


João Camilo de Oliveira Torres

O mineiro, de Belo Horizonte, professor de Filosofia e História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e tendo sido membro da Academia Mineira de Letras, católico, que ao longo de sua carreira historiográfica escreveu sobre suas Histórias das ideias políticas no Brasil, um robusto e amplo estudo composto por várias obras, como: A interpretação da realidade brasileira; A democracia coroada, os construtores do Império; O positivismo no Brasil; VIII - O Presidencialismo no Brasil, e tantas outras. Na sua obra Teoria Geral da História, dotado de vasta erudição ele resume a figura do homem como a fugura que consiste no fato de não se contentar com a situação presente, seja qual for. O Homem não se considera nunca dentro do mundo para o qual foi criado, ou melhor, não se considera nunca realizando a forma de existência que lhe era devida. para ele é apenas uma situação provisória e potencial; como um pretendente ao trono, como um rei no exílio. O homem aspira à sua verdadeira condição.


Helio Vianna

Por último, temos um grandesíssimo historiador do século passado, nascido no Rio de Janeiro bem no início daquele século, sua maior especialização era autor de clássicos da historiografia brasileira, e sua área de especialidade era o Brasil Império. Em sua obra: Estudos da história colonial, ele resume brilhantemente a chegada dos ibéricos nas Américas. Vendo os ibéricos como desbravadores que no século XVI com esse fim realizaram a travessia do Atlântico e que não podem ser comparados aos povos colonizadores que se lhes antecederam na antiguidade. Nas duas próprias palavras:

"A distância da pátria, a carência de recursos, a falta de preparação técnica - casavam-se à absoluta ignorância da nova terra, ao choque com seus habitantes, às dificuldades da obrigatória adaptação ao novo meio." p. 9

Como ele mesmo diz, os portugueses da têmpera de um Jerônimo de Albuquerque e João Ramalho competiam em lançar as bases de um novo tipo de política colonial, destinado ao mais brilhante êxito. Esses senhores criam o Brasil a partir do "meridionalismo", partindo de um litoral muito extenso, o que obrigou a penetração por quatro principais pontos de partida. Começando pela Bahia e de Pernambuco a princípio, de São Paulo e do Pará, pouco depois, saíram eles para o interior desconhecido, conquistando o Norte, da Paraíba ao Maranhão. Em resumo, para Vianna, o valor da contribuição de Portugal à formação americana é verificado através dos resultados que apresentaram os seus processos de colonização. A maior e a mais homogênea das nações do continente. Como ele mesmo diz:

"Brasil nada lhes fica a dever como nacionalidade perfeitamente constituída, material e espiritualmente preparada para a incorporação à civilização ocidental. Deve isto ao sistema colonial que lhe proporcionou Portugal, essencialmente construtivo em quase todas as suas diretrizes." p.14, em, Estudos de história colonial.


1 Licenciado em História pela UCSAL

2 Leopold von Ranke considerado um dos maiores historiadores alemães do século XIX, notadamente é visto como o pai da História cientifica.


Bibliografia:

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. 10 Volumes

LIMA, Manuel Oliveira. As relações do Brasil com os Estados Unidos. Do título original: The Relations of Brazil with the United States) 1913.

LIMA, Manuel Oliveira. Aspectos da literatura colonial brasileira. 1896.

LIMA, Manuel Oliveira. O Império Brazileiro. 1822-1889. 1927.

LIMA, Manuel Oliveira. O movimento da independência. 1821-1822. 1922.

LIMA, Manuel Oliveira. Pan-americanismo: Monroe, Bolivar, Roosevelt, 1907.

PEIXOTO, João Paulo M. Presidencialismo no Brasil: História, organização e funcionamento. Brasília. Senado Federal. pág. 306. 2015.

RODRIGUES, José Honório. Historiografia e Bibliografia do Domínio Holandês no Brasil, Imprensa Nacional. pág. 489, 1949,

TORRES, João Camilo de Oliveira. A democracia coroada, os construtores do Império. Edições Câmara, pág. 710. 2018.

TORRES, João Camilo de Oliveira. A ideia revolucionária no Brasil. Edições Câmara, pág. 607. 2018.

TORRES, João Camilo de Oliveira. A interpretação da realidade brasileira. Edições Câmara, pág. 412. 2018.

TORRES, João Camilo de Oliveira. O positivismo no Brasil. Edições Câmara, pág. 2018.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Teoria Geral da História. Ed. Vozes. 1963.

VIANNA, Hélio. Estudos de história colonial. Ed. Nacional. pág. 318. 1948

 
 
 

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