O debate público sobre o ensino superior e o ponto ignorado
- Marcos Junior

- 26 de set. de 2022
- 3 min de leitura
Em meu primeiro artigo neste portal, abordei sobre o grande desafio que é a educação brasileira, bem como as miopias ideológicas que rondam o debate público sobre o tema, seja de esquerdistas, conservadores ou liberais. Com a aproximação das eleições, o assunto volta à baila com as mais diversas implicações – e discussões – na arena.
Recentemente, um dos temas que me chamou a atenção no debate que ocorre no mundo das redes sociais – mais precisamente o Twitter – foi a questão da forma de se investir e expandir o acesso ao ensino superior para milhões jovens brasileiros. Sobretudo à esquerda do espectro político, essa questão gerou um debate acalorado entre dois grupos principais: de um lado, aqueles que defendem uma expansão massiva do ensino superior público; do outro, sobretudo entre defensores do ex-presidente e atual candidato Lula, apoiar o financiamento a juros subsidiados ou bolsas a futuros estudantes em instituições particulares.
Cabe registrar ainda que, após a fala do ex-presidente de que o Prouni e o Fies “voltariam com força”, as ações de grandes empresas do ensino privado brasileiro, como Yduqs e Cogna, tiveram forte alta na Bolsa no início desta semana. Também é preciso frisar que, recentemente, o governo Bolsonaro editou uma medida provisória que permite renegociar as dívidas do Fies com descontos de até 99%, por sinal, um problema que assumiu grandes proporções nos últimos anos.
Dito isso, é preciso dizer que esse debate, tal como disse naquela ocasião, parte de duas visões míopes sobre o ensino superior. Defender um maior acesso ao ensino superior baseado unicamente na expansão da rede pública, por mais nobre que possa parecer a ideia, ignora o modus operandi do setor público e todos os meandros burocráticos que, mesmo em um cenário ideal, ficam no caminho para se colocar uma universidade ou instituto (no caso, federal) de pé: infraestrutura física, quadro de professores e técnicos administrativos, contratação de terceirizados para serviços de limpeza e manutenção, etc. Aliás, não basta colocá-los de pé, é preciso mantê-los em pé. O drama de algumas instituições com os recentes cortes de recursos nos últimos anos não me deixa mentir.
Por outro lado, apostar (quase) todas as fichas no Fies e Prouni, por mais nobre que possa parecer no sentido de permitir uma rápida inserção de jovens no ensino superior – e, ironicamente, são medidas de tendência mais liberal no sentido de que o investimento do governo é feito diretamente no aluno em vez de todo um conjunto estrutural e burocráticos – e permitir absorver uma demanda não totalmente ofertada pela rede pública, ignora o fato de que essa medida pode ajudar – como de fato ajudou – na criação de oligopólios na área, cujo poder econômico e político (lobby) pode ser usado em benefício deles próprios, em detrimento do ensino público.
Isso sem contar a proliferação de “uniesquinas”, verdadeiras indústrias de diplomas com pouca ou nenhuma preocupação com a adequada formação do aluno, e no fato de que a esmagadora maioria das instituições privadas de ensino superior possuem uma participação pífia em pesquisa e extensão, dedicando-se, quase que exclusivamente, ao ensino.
Em ambos os casos, esses dois principais grupos ignoram – ou dão menos importância que o devido – para um aspecto não menos importante, independentemente de o formado ser proveniente da rede pública ou privada: sua inserção no mercado de trabalho, de preferência em empregos na sua área de formação ou em áreas correlatas. Desde 2015, com o estouro da crise econômica e uma subsequente – mas errática – recuperação, acumulou-se um gigantesco estoque de egressos que, quando não desempregados ou subempregados, estão trabalhando fora da área de formação, o que resulta em um subaproveitamento dos recursos públicos investidos nos últimos anos. No caso dos egressos da rede privada, isso explica a explosão do endividamento estudantil nesse meio-tempo.
Assim, qualquer política pública voltada para o ensino superior, seja pela expansão da rede pública, seja pelo financiamento direto do aluno na rede privada (particularmente defendo uma combinação das duas medidas), precisa pensar em como inserir rapidamente os formandos no mercado de trabalho. No caso das engenharias, minha área de formação e uma das mais castigadas pelo cenário econômico dos últimos anos (atualmente trabalho fora da área, infelizmente), por mais que haja um ensaio de recuperação – sobretudo com os investimentos privados em infraestrutura – só será possível falar em uma retomada sustentada dessa atividade com políticas que visem o desenvolvimento industrial.
Do contrário, a cada crise econômica, veremos milhões de egressos de engenharias, direito, medicina e outros cursos engrossando as estatísticas dos “empreendedores” de bolo de pote, motoristas e entregadores de aplicativo, por exemplo. Evidente que se tratam de profissões dignas como qualquer outra (a despeito dos problemas intrínsecos, que precisam ser resolvidos), mas certamente não era o intuito de muitos fazerem um curso superior para estar nesta situação. E muito menos do poder público.
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