Um pouco da história diplomática do Brasil.
- Renzo Souza

- 21 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Renzo Souza Santos1
O surgimento das primeiras teorias das relações internacionais é algo bastante moderno, ainda que suas premissas básicas tenham surgido a partir do crescimento da associação anti-hegemônica, no período pós-renascentista entre os estados-naçoes, o que fez aflorar a idéia e estimulou a busca da balança do poder entre os europeus.
É a partir das guerras em grande escala como a famosa guerra dos 30 anos que vemos a história dessa balança ser desenhada oscilando sempre entre os dois extremos de um espectro, no qual as relações internacionais deslocam-se do predomínio hegemônico ao das múltiplas independências, passando por situações quase inumeráveis, como se fossem o movimento de um pêndulo que busca, no ponto de equilíbrio. Juntamente nesse século XVII que ficou-se por legitimar a “sociedade de Estados independentes” como força histórica do sistema internacional, a partir ali do chamado "Congresso de Vestfália (1648)" primeiro grande foro internacional dos tempos modernos, consagrou a superioridade do princípio da independência dos Estados, em assuntos internos e externos, sobre o princípio antagônico da hegemonia, isso aqui pode ser resumidoem uma palavra raison d’État, dizia cardeal de Richelieu em seu testamento político.
Essa "filosofia política" fez avançar a sociedade internacional européia em termos conceituais; primeiro a nova ordem era fruto da negociação, segundo ela legitimava uma sociedade de Estados soberanos, e por último enaltecia a associação e a aliança, porém, sem a ingenuidade a ponto de ignorar a existência de hierarquia e hegemonia entre Estados e a mobilidade da balança do poder.
No Brasil, os primeiros esboços sobre as relações internacionais tem início com o grande historiador João Pandiá Calógeras em sua obra - A política exterior do império, 1927-1933 - em 3 volumes, são os famosos "historiadores diplomáticos", igual a ele, Hélio Vianna, Delgado de Carvalho, Renato de Mendonça, Teixeira Soares e, um José Honório Rodrigues que vemos o estudo avançar. Outro aporte importante ao desenvolvimento da disciplina foi a percepção de que os arquivos diplomáticos não são suficientes para uma boa pesquisa da história das relações internacionais.
Por isso foi válido buscar a leitura de dissertações, teses, livros e aartigos que comprovem a necessidade de ampliação das fontes, incluindo-se entre elas as parlamentares e jornalísticas, como também a importância de se fazer uso das técnicas da história oral e da análise do discurso. Ampliou-se o horizonte geográfico com estudos sobre as relações do Brasil com a África, a Ásia e, especialmente, com os países do Cone Sul. O professor Renato Mendonça como exemplo escreveu obras magníficas como: A influência Africana no Português do Brasil, obra escrita em 1933. Outro importante estudioso nos estudos fundamentais foi Amado Luiz Cervo, autor que buscou olhar pelo prisma político em sua obra - O parlamento brasileiro e as relações exteriores, 1826-1889", publicado em 1981, além de Clodoaldo Bueno em: A República e sua política exterior, 1889-1902, de 1995, duas obras vieram ampliar essa linha de pesquisa: a síntese de Cervo e Bueno, História da política exterior do Brasil, lançada em 1992, e a obra coletiva O desafio internacional, além da magnífica obra "A política exterior do Brasil de 1930 a nossos dias", publicada em 1994.
Outra geração muito boa contou com a colaboração de Moniz Bandeira, León Bieber, José Flávio Sombra Saraiva e Antônio José Barbosa. Cada um buscou realizar um recorte analítico do Brasil com varias regiões do Mundo. A começar com o professor Alberto Moniz Bandeira, que escreveu obras fantásticas como a relações do Brasil com os Estados Unidos, a Alemanha, a Argentina e a América Latina; o de Amado Luiz Cervo, com a Itália; o de José Flávio Sombra Saraiva, com a África; e o de Francisco Monteoliva Doratioto, com o Paraguai. Todos esses estudos fundamentaram a tese que renovou o olhar sobre a inserção internacional do Brasil desde os anos 1930: a subordinação da política externa à busca obsediante pelo desenvolvimento nacional por parte das elites políticas do Brasil.
Como desígnio que abrigou concepções distintas da política exterior, especialmente a tensão entre os liberais e os nacionalistas, o desenvolvimento permitiu certos padrões de continuidade verificados na conduta externa do país desde a década de 30.
Cabe acentuar que no Brasil tivemos a elaboração de um programa formal de estudos como Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri) na publicação da Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), a mais antiga do país na área das relações internacionais.
1 Licenciado em História pela UCSAL Bibliografia:
BANDEIRA, Alberto Moniz. Presença Dos Estados Unidos No Brasil. Civilização Brasileira. pág. 686. 2007.
BANDEIRA, Alberto Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos: Conflito e integração na América do Sul. Civilização Brasileira. pág. 672. 2010.
BANDEIRA, Alberto Moniz. O milagre alemão e o desenvolvimento do Brasil - 2ª edição: (1949-2011). Editora Unesp. pág. 400. 2011
BANDEIRA, Alberto Moniz. Estado Nacional e Política Internacional na América Latina: o Continente nas Relações Argentina-Brasil (1930-1992). Editora UnB. pág. 336. 1995.
BUENO, Clodoaldo. A República e sua política exterior. Editora Unesp; 2ª edição. pág. 388. 2023.
BUENO, Clodoaldo.; CERVO, Amado Luiz. História da política exterior do Brasil. 4ª Edição revista e ampliada. Editora UnB. pág. 595.1994
CALÓGENAS, João Pandiá. A política exterior do Império : as origens. vol. 1. Ed. Senado Federal. 1900.
CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relações exteriores. Editora Universidade de Brasília. pág. 241. 2008.
DORATIOTO, Francisco Monteoliva. A guerra do Paraguai. Planeta. 1ª edição. pág. 448. 2016.
MENDONÇA, Renato. A Influência Africana no Português do Brasil, Ed. FUNAG. pág. 200. 2012.
SARAIVA, José Flávio Sombra. O Lugar Da Africa - A Dimensao Atlantica Da Politica Brasileira. Editora UnB, 1996.
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