É hora de quebrar um velho tabu: a esquerda é, sim, mainstream.
- Beto Palopoli

- 29 de abr. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2022
Após anos de verdades sendo expostas na internet, é hora de acabar com um grande tabu (para não dizer “mentira") das últimas décadas: a esquerda sempre foi não apenas parte do mainstream como um de seus maiores pilares.
A esquerda sempre se caracterizou por ser um movimento que se alimenta de mentiras: seja criando falsos heróis como Che Guevara, falsas ideias econômicas que provariam que o socialismo funciona ou tentando nos convencer de uma popularidade absurda de líderes que não saem às ruas. Mas há uma mentira em específico que põe em risco a credibilidade de todas as outras: a de que a esquerda seria uma força antissistema, uma resistência formada por bravos heróis que lutam contra tudo e todos em nome do “que é justo”. Eram contra os EUA, contra a indústria de forma geral, contra os grandes empresários, contra os banqueiros e contra a cultura pop.
Para antagonizar com tudo isso, alegavam defender os pequenos países, pequenos produtores, falavam contra o sistema financeiro e ofereciam uma cultura de “qualidade”, enquanto olhavam com desprezo para as grandes marcas, as grandes corporações, para as músicas e filmes da moda. Denunciavam, com razão, sua baixa qualidade. Mas, principalmente, atacavam a grande imprensa, denunciando, também com razão, que esta imprensa não estava preocupada com a verdade e, ao contrário, era um autofalante para veicular aquilo que interessava a seus financiadores. Ou seja, todos os mencionados anteriormente: mercado financeiro, grandes empresas e o governo americano. Para descobrir a verdade, sem tais falsas narrativas, sugeriam revistas como “Carta Capital” e “Caros Amigos”.
Ah, e como não lembrar do antagonismo terrível entre PT e PSDB. O segundo, defensor de todos os grandes interesses já mencionados. O primeiro, porém, um partido criado pelos tais bravos heróis que lutam contra tudo e todos em nome do “que é justo”. PSDB sempre motivado pela ganância dos que estão no topo e por um medo interior de que um dia o povo acordasse e começasse a lutar contra o sistema. PT sempre motivado por esse olhar transformador, que atraía trabalhadores e excluídos em geral para derrubar o sistema e fazer a justiça. But that`s soooo nineties (Aff, isso é tão anos 90....)
Adiantem o filme agora para 2022. Vemos PT e PSDB praticamente formando chapa (Alckmin sempre será a cara do PSDB, não adianta mudar de partido), a esquerda aclamando Anitta, maior expoente da cultura pop que eles tanto desprezavam, a Globo e os jornais tradicionais mal se diferenciam da linha editorial da Carta Capital, e programas antes considerados fúteis e instrumentos de alienação das massas, como BBB, hoje são referências da esquerda para debater temas como desigualdade racial, de gênero e homofobia. E, quem diria, o vilão EUA já é uma nação amiga, pois tem um governo Biden de esquerda. E todos os artistas da cultura pop americana (antes vista como uma heresia tomando espaço que deveria ser da cultura nacional raiz) viraram heróis porque passaram quatro anos lacrando contra Donald Trump. Movimentos americanos como “Black Lives Matter”são importados instantaneamente e termos como cancelamento (cancel culture) se aportuguesam e nacionalizam em velocidade recorde, pouco importando diferenças culturais e históricas.
Outro aspecto perverso dessa contradição é quando vemos o movimento contrário: grandes bancos apoiam o candidato de esquerda, grandes empresários da educação (área que a esquerda sempre defendeu que jamais deveria ser objeto de lucro) apostam que “haverá outro presidente no ano que vem”. Grandes marcas fazem seu marketing abordando temas como racismo e homofobia do mesmo ponto de vista que a esquerda os aborda. E, pasmem, para entrar hoje nas multinacionais tão demonizadas pela esquerda no passado, é preciso saber defender com entusiasmo tudo aquilo que é considerado “woke”. Em bom português, “lacrar”. Pois é, mais um termo que tem correspondente nos “antiesquerdistas” EUA. E sem falar na defesa feroz que EUA e outros países recebem ao darem pitaco em questões ambientais brasileiras, atitude que, 20 anos atrás, seria considerada imperialista e neocolonialista pela própria esquerda. As ONGs de países “imperialistas” recebem aqui, literalmente, tapete vermelho, da esquerda.
Mas, afinal, qual seria o motivo de uma mudança tão radical? A resposta é simples: jamais houve mudança. A esquerda de 20, 30, 40 ou 50 anos atrás sempre foi parte do sistema que alegava defender. Jamais esteve errada ao denunciar que o mercado financeiro servia apenas uma pequena elite ou que a supremacia americana no mundo mantinha as outras nações pobres. Porém, se lutasse de verdade contra tal sistema, jamais teria sobrevivido. E jamais estaria tão visivelmente dentro dele como está hoje. Sempre foi bonito ser rebelde. E essa ideia sempre atraiu jovens dentro de universidades, grupos de música e teatro e nos círculos chamados “cult”. Essas décadas todas a esquerda apenas fez o que sempre fez melhor: fingir e mentir. Fazer parecer algo que não é. Criar um eterno “está na moda falar mal da moda”, enquanto nada fazia para combater os problemas que (por vezes, justamente) denunciava e ainda negociava por trás dos panos com o poder que criticava em público.
Se mente tão bem, por que hoje está tão óbvio que é mainstream? É difícil explicar esse fenômeno plenamente, mas uma hipótese é de que a mentira da esquerda “lutadora contra o mainstream” não sobreviveu à era da internet e andou sonâmbula em direção à luz que a colocava exatamente no mainstream. Aproximou-se pouco a pouco de elementos da cultura pop e da mídia tradicional achando que poderiam vender isso como alianças temporárias para derrotar um “mal maior” (Donald Trump ou Bolsonaro, por exemplo), sem perceber que, com isso, o público identificava que se tratava da mesma coisa.
Antes, era só uma aparente dicotomia entre mainstream e esquerda. Hoje, a clareza disso é tanta que sequer há falsa dicotomia: está visível que são literalmente a mesma coisa. E assim o mito que era a maior identidade da esquerda, seu maior fator de atração, seu maior romantismo, o de lutar contra o sistema como um jovem sonhador, é desfeito. Cabe-nos agora perguntar: será que vai haver futuro para a esquerda sem esse mito? Escrito por Beto Palopoli.
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