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Índia: a história econômica da superpotência do futuro – Parte 2

Atualizado: 2 de fev.

Marcos Jr. [1]

No primeiro artigo [2] da série, foi abordada a história econômica da Índia no intervalo histórico que vai desde o período pré-colonial até a independência do país, passando pelo período de domínio britânico, período esse em que a economia indiana, que chegou a estar entre as maiores do mundo conhecido, foi “podada” – em certos aspectos, de maneira brutal – em suas capacidades e potencial. Neste segundo artigo, focaremos no período a partir de 1947, quando conquistou a independência dos britânicos, até os dias atuais, em que a Índia se depara com a perspectiva de entrar para o rol das superpotências, capaz de rivalizar com a China, ou até mesmo superá-la.

Sem mais delongas, vamos a mais um tour pela história contemporânea indiana.

Décadas de 50 a 70

A partir da independência do país, em 1947, a Índia iniciou o processo de reconstrução [3] de sua economia, optando por uma via desenvolvimentista [4], típica de países de industrialização tardia. O projeto de desenvolvimento indiano, descrito em uma carta de 1946 de Jawaharlal Nehru (um dos principais arquitetos do Estado indiano moderno), era baseado em três pilares: foco na indústria pesada, defesa da pequena produção artesanal e planejamento, este último evidente por meio dos Planos Quinquenais, ferramenta essa já utilizada na acelerada transformação econômica da antiga URSS.

Para se ter ideia da longevidade desta última ferramenta e de sua importância na história econômica do Estado indiano, sucederam-se, após este, outros onze Planos Quinquenais, o último deles [5] para o período de 2012-17, sendo que a Comissão de Planejamento, responsável por esses planos, existiu até 2014, quando, já no governo do atual premiê Narendra Modi, foi substituída a partir de 2015 [6] pelo NITI Aayog (Instituto Nacional pela Transformação da Índia), um think tank governamental de políticas públicas.

Sendo uma economia predominantemente agrária, nesse primeiro momento buscou-se investir em instalações de irrigação, construção de barragens e outras infraestruturas, além da maior importância ao estabelecimento de indústrias modernas, institutos científicos e tecnológicos e o desenvolvimento de programas espaciais e nucleares. A já mencionada Comissão de Planejamento, responsável pelos planos quinquenais, foi o núcleo duro do aparato econômico do país até 1964, quando o sucessor de Nehru realizou reformas. A despeito desses esforços, o país não se desenvolveu rapidamente, em grande parte devido à falta de formação de capital, às políticas da Guerra Fria, às despesas de defesa e ao aumento da população, somado às infraestruturas inadequadas.

Entre 1951 e 1979, a economia indiana cresceu em média 3,1% ao ano a preços constantes, ou, 1% ao ano per capita. A indústria cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano, enquanto que a agricultura crescia a uma média anual de 3%.

Década de 1980

Houve uma melhora na taxa de crescimento [3] do país: entre 1980 e 1989, a economia expandiu a uma taxa anual de 5,5% ou 3,3% per capita. A indústria cresceu a uma taxa anual de 6,6% e a agricultura a 3,6%. Um fator importante para a melhora do desempenho da economia indiana foi a elevação da taxa de investimento, de cerca de 19% no início da década de 1970 para 25% no início dos anos 1980.

A poupança privada financiou a maior parte do investimento da Índia, mas em meados desse período era difícil um maior crescimento desse indicador, visto que já se encontrava em um nível bastante elevado. Durante o final da década, a Índia passou a depender mais de empréstimos provenientes de fontes estrangeiras.

Outras mudanças não menos importantes um pouco antes e ao longo desse período [4] foram: mecanismos de liberalização comercial a partir de 1976, como o relaxamento gradual do antigo regime de licenciamento de importações; abrandamento das restrições aos investimentos externos e, a partir de 1985, temos os primeiros sinais das reformas econômicas, que viriam a se consolidar a partir da década de 1990, graças a uma crise na balança de pagamentos e a necessidade de novos ajustes para seguir recebendo novos empréstimos.

Liberalização da economia indiana (a partir dos anos 1990)

A partir dos anos 1990, mais precisamente em 1991, no governo P. V. Narasimha Rao (1991-1996), quando Manmohan Singh, então Ministro das Finanças (posteriormente se tornaria primeiro-ministro, entre 2004 e 2014), ao elogiar o seu primeiro orçamento naquele ano, deixou transparecer a ideia de uma Índia emergente enquanto grande potência econômica [3]. Nesse período, a Índia adotou um conjunto de reformas econômicas estruturais [4], com foco na liberalização comercial, abertura aos investimentos estrangeiros diretos e modernizações no sistema financeiro e de mercado de capitais, reformas estas graduais e que não abandonaram o projeto de desenvolvimento do país, capitaneado pelo Estado.

Desde então, a economia indiana passou a ter um fortíssimo ritmo de crescimento, a uma taxa de 6% a 8% ao ano, e, atualmente, o país é a quinta força na economia mundial [7], a frente de países como Reino Unido (sua antiga metrópole), França e Itália e pouco atrás do Japão. As principais indústrias da Índia são de tecnologia da informação (TI), telecomunicações, têxteis, química, processamento de alimentos, aço, equipamentos de transporte, bens de engenharia, cimento, mineração, petróleo, máquinas, software e produtos farmacêuticos. Na agricultura, os principais produtos incluem arroz, trigo, oleaginosas, algodão, juta, chá, cana-de-açúcar, batata, gado, ovelhas, cabras, aves e peixes.

De acordo com o Observatório da Complexidade Econômica [8] (OEC, em inglês), os produtos mais exportados da Índia atualmente são: petróleo refinado, diamantes, medicamentos embalados, joias e arroz, e seus principais parceiros de exportação são EUA, Emirados Árabes Unidos, Países Baixos, China e Bangladesh. Quanto às importações, os principais produtos que a Índia importa são: petróleo cru, carvão mineral, ouro, gás de petróleo e diamantes, tendo como principais parceiros China, Emirados Árabes Unidos, EUA, Arábia Saudita e Rússia.

Ao longo de sua história enquanto país independente, o perfil da economia da Índia se transformou radicalmente: de uma economia outrora agrária (59% de participação do setor primário em 1950-51) para uma economia baseada em indústria e serviços (cerca de 25% e 60%, respectivamente, no início dos anos 2010), sendo que é um dos líderes mundiais nesse último setor mencionado. Mesmo assim, o país não deixa de ser um dos maiores e de mais rápido crescimento no setor alimentício e na produção agrícola.

Para o futuro, espera-se que o aumento dos níveis de rendimento e poupança, as oportunidades de investimento, o gigantesco consumo interno e a população mais jovem ajudem na sustentação do crescimento econômico do país, fazendo com que a participação da Índia no PIB chegue, segundo uma estimativa feita em 2008, para 20% em 2040.

[1] Formado em Engenharia de Produção, Especialista em Gestão Pública, servidor público e secretário-geral do Brasil Grande

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