As raízes do nacionalismo no Brasil
- Renzo Souza
- 10 de ago.
- 4 min de leitura
Renzo Souza Santos [1].
As raízes do nacionalismo remontam ao início da república. Ele teria raízes ufanistas e um republicanismo, uma versão nacional que procurava selecionar as disputas intelectuais da época entre as ideias externas e o debate público nacional.
A primeira corrente nacionalista pensava não como resultado dos regimes políticos, mas sim como fruto das condições naturais da terra, uma espécie de fisocratismo Nacional. Para esses primeiros autores, a natureza prodigiosa e abençoada garantiria um futuro promissor para além e independente dos regimes políticos e das querelas partidárias. Esse ufanismo que unia as qualidades da terra e os valores das três raças originárias do tecido social do país operava, segundo eles, na promoção da paz dos espíritos, prometendo dias melhores no futuro. O ufanismo, dessa forma, era representado por Afonso Celso, Olavo Bilac e Alberto Torres, e pode ser visto como a construção simbólica de maior constância e penetração no pensamento social brasileiro durante os primeiros anos da república.
A primeira grande expressão de um movimento nacionalista se inicia com Olavo Bilac. Suas crônicas de 1905 na revista Kosmos dão o primeiro passo nesse sentido. Bilac defendia a educação primária e o serviço militar obrigatórios, pois considerava que sem educação não há povo nem civilização. A partir desse momento, surgiram as primeiras estratégias de propagação de ideias nacionalistas. No ano de 1915, Bilac iniciou uma jornada patriótica para despertar a nação falando aos estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo. Sua proposta de salvação nacional passava pelo serviço militar obrigatório, visto por ele como um instrumento de formação de brasileiros conscientes que conduziria ao triunfo da república. Foi a partir dessas conferências que Bilac iniciou uma campanha que, de forma subsequente, levaria à formação da "Liga de Defesa Nacional". Seus discursos foram reunidos num livro chamado A defesa nacional, publicado em 1917.
Outro autor de destaque é Alberto Torres, carioca, que examina a política internacional em um dos seus livros traduzidos para a língua francesa. “Vers la paix” de 1909, nesse livro ele defende a posição de independência, afirmando que não há razões para uma aproximação com os Estados Unidos e nem com a Europa. Para ele, o nosso inimigo é o fenômeno do imperialismo e não esta ou aquela potência. Em Vers la paix, enquanto ocorrer um direito e uma política de guerra, a existência de um Exército e uma Marinha, haverá guerras, ou ao menos, a ameaça de guerras. E conclui dizendo que o espírito militarista apresenta-se sob o pretexto da defesa nacional, contra as forças externas, mas, sem deixar de levar em conta uma defesa dos governos contra seus adversários internos.
Não podemos esquecer da crítica ao Monarquismo brasileiro, temos dentre os nomes o mais forte do poeta Raul Pompéia, esse brilhante nacionalista relê a história do Brasil segundo uma grande luta interna. Ele condena o Império, responsabilizando-o por cinquenta anos de inércia e abandono: uma "inépcia benigna", como ele falava, que gerava as passividades, resignações, corrupções. Para ele, o segundo reinado voltou as costas à pátria. Ele via o príncipe como um agente externo, de uma dinastia europeia que anulava o caráter nacional. Ferrenho crítico do estrangeirismo que apoiava o trono, que garantia seu monopólio sobre as especulações mercantis.
Ele concluía dizendo: “O fazendeiro apoiava o trono, que garantia a manutenção do trabalho servil. Nesse sistema, o brasileiro que não fosse proprietário rural tinha que ser o parasita involuntário do funcionalismo, ou o soldado, sob a prevenção eficaz da chibata.” p.128 (Lúcia L. Oliveira).
Nos anos de 1914, temos os dois primeiros movimentos de agremiação nacionalista. O primeiro conhecido como “Propaganda Nativista” de 1919, e o segundo, como “Ação Social Nacionalista” de 1920. Ambos os movimentos tinham como figura central as ideias de Álvaro Bomilcar, que operou a simbiose entre as duas correntes no início da República. Suas origens remontam às ações políticas no Rio de Janeiro. Ali, Álvaro Bomílcar da Cunha, Afonso Celso e Jackson de Figueiredo, Alcebíades Delamare fundavam a Campanha Nacionalista e montavam o famoso jornal da época “O Gil Blás”.
Esse influente jornal surgiu em fevereiro de 1919, em meio à sucessão presidencial. Segundo o autor Carlos Gustavo Nóbrega De Jesus em seu livro “REVISTA GIL BLAS E O NACIONALISMO DE COMBATE (1919-1923)”, 63,7% dos artigos tratam dos temas: Nacionalismo, Política regional, Política internacional e Política nacional, o que demonstrava o interesse primordial em se discutir assuntos de esfera política. O número considerável de artigos sobre o catolicismo, 10,8% do total, também demonstra a relevância do assunto nas páginas da revista.
O gestor da revista era o influente católico Alcebíades Delamare, o homem por trás do Cristo Redentor. Para ele, o nacionalismo se consubstancia em duas coisas: Deus e Pátria. Nas suas próprias palavras:
“O primeiro é a força irresistível que nos atrai para a perfectibilidade do nosso espírito; o segundo é o ímã que nos prende ao solo em que nascemos". E conclui dizendo em grande polêmica; p. 153 (Lúcia L. Oliveira).
"O nacionalismo dominará o Brasil - como o Fascismo empolgou a Itália, como o Riverismo absorveu a Espanha - no dia em que todos se convençam de que o catolicismo é a única força capaz de dirigir e governar o Brasil. Sem catolicismo, não há, nem pode haver, nacionalismo". P.153 (Lúcia L. Oliveira).
A figura de maior destaque no jornal fora - O pensamento nacionalista - de Jackson de Figueiredo, já foi diagnosticado pela professora Lúcia L. Oliveira da seguinte forma:
“Jackson de Figueiredo acredita, como Joseph de Maistre, nos 'dogmas nacionais', fruto de uma realidade nacional, de uma consciência nacional. Sem chegar ao extremo do nacionalismo integral de Maurras ou ao culto estetizante da nação, à maneira de Barres, o pensador brasileiro acredita na ideia de nação, na medida em que ela tem um passado comum, tradições, crenças, valores e mitos, figuras e fatos que venera.” P.172 (Lúcia L. Oliveira).
Jackson de Figueiredo identifica o nacionalismo com o passado católico, com uma tradição que vê ameaçada pelo protestantismo, pelo imperialismo norte-americano, pelo liberalismo secular.
Bibliografia:
FERNANDES, Cléa de Figueiredo. Jackson de Figueiredo - Uma Trajetória Apaixonada. Forense Universitária, 1989.
JESUS, Carlos Gustavo Nóbrega de. Revista Gil Blas e o Nacionalismo de Combate (1919-1923). São Paulo: Cultura Acadêmica Editora. 2012. 265p.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense; Brasília: CNPq, 1990. 208p.
Nota de rodapé:
[1] Licenciado em História pela UCSAL.
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