Como a CIA manipulou e destruiu o trabalhismo no Brasil
- Renzo Souza

- há 3 dias
- 13 min de leitura
Por: Renzo Souza Santos [1]
Para o cientista político e jurista italiano Norberto Bobbio, a teoria das elites ou elitista se configura segundo a qual, em toda a sociedade, existe uma minoria que, por várias formas, é detentora do poder, em contraposição a uma maioria que dele está alheia, amorfa e privada desse processo. Uma vez que, entre todas as formas de poder, entre aquelas que, socialmente, são mais importantes, estão o poder econômico, o poder ideológico e o poder político. A teoria das elites nasceu e se desenvolveu por uma especial relação com o estudo das elites políticas, e ela pode ser redefinida como a teoria segundo a qual, em cada sociedade, o poder político pertence sempre a um restrito círculo de pessoas, portanto, o poder de tomar e de impor decisões válidas para todos os membros do grupo, mesmo que tenha de recorrer à força, em última instância. Em toda sociedade, há divisão entre governantes e governados, uma concepção realista da política. Podemos notar isso nos trabalhos de um Gaetano Mosca, Saint-Simon, Taine e Marx e Engels.
Para o marxista sardo Antonio Gramsci, no que diz respeito à noção de elites, ela está inserida naquilo que deve ser atribuído à noção de “hegemonia”, algo que oscila entre um sentido mais restrito de “direção”, em oposição a “domínio”, e um mais amplo e compreensivo de ambos. Para ele, uma classe é dominante em dois modos, isto é: é dirigente’ e dominante. É dirigente das classes aliadas, é dominante das classes adversárias. Portanto, uma classe desde antes de chegar ao poder pode ser dirigente e deve sê-lo.
Para o cientista político uruguaio, René Armand Dreifuss, o poder de classe que domina as estruturas sociais pode estar dividido em três níveis de organização: complexidade, capacidade e área de atuação, base social e objetivos. Assim, as elites orgânicas propriamente ditas, as centrais ou laboratoriais de ideias e de pesquisa, fundações e agências de planejamento e consultoria que servem à classe dominante (sem serem necessariamente partes dela ou participantes da ação política direta) e as unidades de ação, grupos táticos visando alvos específicos e fins limitados, no âmbito de uma estratégia encabeçada por elites orgânicas que as orientam para ações conjunturais e de curto alcance.
É nesse ínterim que podemos inserir a atividade sindical. Gramsci reconhece aos sindicatos o mérito de ter representado a primeira forma orgânica da luta de classes, a partir do momento em que eles nasceram com o fim último de suprimir o lucro privado e os excessos do capital. Isso levou os trabalhadores a basear a própria ação no melhoramento das condições de vida do proletariado, exigindo salários mais altos, horários de trabalho reduzidos e um corpo de legislação social. Foram obtidos bons resultados, mas às custas de conservar o princípio da propriedade privada dos meios de produção e a ordem da produção capitalista, além de selecionar uma classe dirigente sindical estritamente burocratizada sobre a base de critérios de competência meramente jurídica, burocrática ou demagógica, vide o fascismo, etc. Vistos nesses termos, os sindicatos se apresentam como um componente da sociedade capitalista.
O próprio Gramsci fez uma pequena avaliação da formação sindical dos EUA, falando em “liquidação dos sindicatos livres” e “sua substituição por um sistema de isoladas (entre si) organizações de empresa”, como é de fato nos Estados Unidos.
Após essa breve introdução metodológica, vamos entender um pouco o que foi a AFL-CIO e sua atuação no Brasil visando à hegemonia a partir do poder político e elitista dos EUA aqui dentro do Brasil. A sigla da American Federation of Labor-Congress of Industrial Organizations, poderosa central sindical dos operários norte-americanos, é oriunda da fusão de duas entidades sindicais. A primeira surgiu em 1886, congregando trabalhadores do mesmo ofício, e a segunda foi organizada em 1935, associando os operários sem especialidade. Tal fusão ocorreu em 1955, sob a presidência de George Meany; atualmente a central reúne cerca de 125 sindicatos e mais de 15 milhões de trabalhadores.
Na AFL-CIO, cada sindicato deve se submeter para assinar acordos coletivos quanto a aumentos salariais e outras reivindicações específicas; é necessária a obtenção do apoio da direção geral e dela própria. A entidade é fortemente anticomunista e conservadora no que diz respeito às políticas interna e externa dos Estados Unidos.
Aqui na América Latina e no Brasil, para expandir os seus tentáculos internacionais na construção de organizações sindicais ditas pelegas como a Organização Regional Interamericana de Trabalhadores — Orit e a Confederação Internacional de Sindicatos Livres — ICFTU, contou ainda com a ajuda e a participação do movimento sindical norte-americano AFL-CIO e seu braço ideológico para a América Latina, a chamada AIFLD. Esta última, por sinal, foi a protagonista na destruição do trabalhismo brasileiro, ao se envolver na política sindical da América Latina, como braço político-ideológico de operações de desestabilização, pressão e intervenção sindical, em esforços conjuntos ou simplesmente como canal da AID, da CIA e do empresariado norte-americano, que foi seu inspirador.
A American Institute for Free Labor Development ou AIFLD e, em particular, com William C. Doherty, seu presidente e ex-agente de informações americano, para melhorar a “compreensão entre trabalho e gerência” e fortalecer o movimento trabalhista-sindical pró-capitalista na América Latina. As atividades conjuntas incluíam seminários públicos, entre administradores e trabalhadores, o levantamento da situação e o acompanhamento da movimentação política, a formação de quadros de meio e alto escalão para os sindicatos, o entrosamento entre empregados e patrões, publicação de material propagandístico e o intercâmbio de informações sobre questões econômicas e sociais.
Paralelamente, um grande número de suas empresas associadas fornecia apoio financeiro e orientação para a AIFLD, trazendo, por exemplo, George Meany, o grande pelego sindical americano, presidente da AFL-CIO e da AIFLD, ao encontro anual do órgão em 1970, o que foi saudado como grande vitória desses sindicatos e da CIA. Este trabalho continuou na década de 70, num esforço que seu presidente, José de Cubas, chamaria de “defesa da livre empresa”.
Seu intuito era simples: promover uma “educação” dos trabalhadores era de importância capital para a AFLD e as suas elites orgânicas congêneres. Seus diretores viam como “essencial” a formação de quadros de liderança e preparo de militantes, assim como a própria penetração no meio sindical e trabalhador, com figuras capacitadas para travar duras batalhas políticas, manipular a opinião pública e, quem sabe, lançar candidatos dentro das eleições nacionais visando à fragmentação dos partidos trabalhistas na AL.
Aqui fica evidente que desorganizar o movimento operário e camponês para reorientá-los em direção a objetivos empresariais e capitalistas norte-americanos era a verdadeira finalidade. Assim, as elites orgânicas na América Latina, ligadas à AIFLD/CIA, trabalharam arduamente para interferir nesta área, multiplicando os cursos de formação de líderes e de quadros. O guru de assuntos internacionais do sindicato, Jay Lovestone, era o ex-líder do Partido Comunista dos Estados Unidos que se tornou um anticomunista tão fervoroso que alienou os agentes da CIA que prestavam assistência aos projetos internacionais do movimento sindical. Seu sindicato interveio na França e na Itália do pós-guerra, atuando para dividir os sindicatos liderados por comunistas e reprimindo greves que ameaçavam derrubar as economias e os governos de ambos os países. A AFL-CIO mergulhou na América Latina, onde auxiliou sindicatos trabalhistas, anticomunistas e até comunistas para fragmentá-los por dentro; ela se opôs ativamente aos governos de esquerda.
Para os líderes da AFL-CIO, imersos nas ideias de "sindicalismo empresarial" ou "sindicalismo puro e simples" ou Novo Sindicalismo, a busca por objetivos práticos de "pão com manteiga" em vez de transformação social, como sintetizado na famosa exigência do fundador da AFL, Samuel Gompers, a liberdade para a classe trabalhadora exigia que seus sindicatos tivessem completa independência do controle governamental local e subserviência aos EUA.
Combater o comunismo frequentemente significava trabalhar em conjunto com o governo dos EUA, incluindo o Departamento de Estado, a Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a CIA, bem como seu antecessor, o Escritório de Serviços Estratégicos (OSS). Para a AFL-CIO, os imperativos de salvar a Europa Ocidental do stalinismo, reverter os avanços soviéticos na Europa Oriental e conter o comunismo em todo o mundo eram centrais para o que eles percebiam como o papel internacionalista do movimento operário. Por si só, isso já seria motivo suficiente para um estudo aprofundado do ativismo internacional da AFL-CIO.
Os dois primeiros presidentes da AFL-CIO resultante da fusão, George Meany, entre 1955 e 1979,, e Lane Kirkland, entre 1979 e 1995, eram claramente identificados politicamente por seu anticomunismo. Mas deixaram claro que suas políticas internacionais se baseavam não apenas em uma luta “negativa” contra o comunismo, mas também em uma “luta positiva pela democracia e pelos direitos da liberdade” e pelo trabalho livre. Lane Kirkland, embora não tenha diferido significativamente de Meany, formulou a política externa do movimento operário de maneira ligeiramente diferente de seu antecessor. Influenciado pelos eventos em que a AFL-CIO causou instabilidade na Polônia, ele construiu uma estrutura universal em torno do conceito de liberdade de associação que abrangia todos os interesses do movimento operário. Ele explicou sua abordagem em um discurso em 1982:
“Rejeitamos o isolacionismo, rejeitamos também a busca sem princípios de algo descrito de várias maneiras como ‘interesse nacional' ou ‘pragmatismo'. Foram os argumentos do “interesse nacional” ou do “pragmatismo” que impulsionaram Chamberlain em sua fuga para Munique; que alimentaram a conspiração para derrubar Mossadegh no Irã em nome do petróleo; e que inspiraram outros excessos e aventuras dos mais brilhantes. Defendemos, em vez disso, uma doutrina enraizada em uma proposição universal e duradoura: o serviço às aspirações dos trabalhadores comuns por liberdade, uma vida melhor e uma participação justa nos frutos do seu trabalho”.
Kirkland insistia que o princípio da liberdade de associação não deveria determinar apenas a política externa dos trabalhadores, mas também a política externa americana; era a Excalibur [2] que poderia cortar a rocha impenetrável do interesse nacional e da política comercial, bem como a falsa dicotomia entre regimes “autoritários” e “totalitários”. Em todos os seus discursos sobre assuntos internacionais a partir desse período, Kirkland argumentou que um padrão único para a conduta dos EUA no mundo deveria ser estabelecido com base no grau em que os governos respeitassem os sindicatos livres.
Essa falsa "Solidariedade" realizou a campanha de sindicalização mais rápida da história, atingindo dez milhões de membros até o final de setembro. Nessa altura, já sabia que tinha um aliado forte na AFL-CIO, que o apoiaria em todos os aspetos importantes: moral, financeiro e político. Embora tenha havido mensagens significativas de solidariedade e promessas de apoio aos trabalhadores polacos por parte do movimento sindical internacional, especialmente da Confederação Internacional dos Sindicatos (CIS), a disponibilidade imediata da AFL-CIO em angariar fundos em nome da solidariedade e a sua rejeição da política tímida da administração Carter foram um sinal particularmente importante. Tom Kahn recebeu a incumbência de coordenar a campanha geral da AFL-CIO em apoio ao Solidarity. Durante a existência legal do Solidarity, a AFL-CIO arrecadou entre US$ 250.000 e US$ 300.000 para investir em sindicatos pelo mundo. As contribuições variaram de US$ 10.000 (de várias afiliadas) a (de um trabalhador sindicalizado aposentado).
George Meany, o Agente e líder Sindical da AFL-CIO
No Brasil, o já citado René Armand Dreifuss foi pioneiro ao explicitar as ligações entre o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a AFL-CIO, o AIFLD e a CIA. Dirigentes da AFL-CIO, como o também já citado George Meany, são identificados como agentes da Divisão de Organizações Internacionais da CIA. A AFL-CIO costumava ser chamada, ironicamente, de "AFL-CIA”
A professora Larissa Rosa Corrêa fez um amplo estudo sobre essa questão, segundo ela a ideia era direcionar os países vizinhos para o caminho da “prosperidade, liberdade e autoconfiança”, princípios considerados fundamentais para a criação de um hemisfério ocidental comum, no qual os valores de “liberdade” e “dignidade” pudessem ser compartilhados, garantindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento econômico contínuo das nações capitalistas avançadas. Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil de 1961 a 1966 e porta-voz da chamada ‘Aliança para o Progresso', não escondia os benefícios econômicos que poderiam ser obtidos com a cooperação entre os governos das Américas, argumentando que “sabemos que vizinhos prósperos podem se tornar bons parceiros comerciais”.
O programa da AIFLD no Brasil foi dividido em setores urbanos e rurais. Nos primeiros anos, a AIFLD enfatizou a importância de ajudar a fornecer opções de moradia de baixo custo para os trabalhadores. Por exemplo, em 1964, a AIFLD pretendia construir 11300 unidades habitacionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre. Segundo o estudioso Beth Sims, os projetos de assistência social iniciados em áreas urbanas foram concebidos para apresentar uma imagem positiva dos Estados Unidos aos brasileiros, retratando a AIFLD como aliada dos sindicatos brasileiros e, assim, contribuindo para a filiação de novos membros.
Em contraste com as estratégias trabalhistas urbanas, a AFL-CIO considerava os setores rurais ideais para a introdução do “sindicalismo livre” devido ao grande número de trabalhadores não sindicalizados em áreas propícias ao desenvolvimento econômico. Além disso, essas organizações esperavam que, com a introdução e implementação de um modelo de trabalho orientado para os negócios, conseguiriam conter a disseminação de movimentos radicais de reforma agrária, como as “ Ligas Camponesas”.
Para evitar críticas sobre a interferência dos EUA em questões nacionais, a AIFLD fundou o Instituto Cultural do Trabalho (ICT), com sede em São Paulo, o grande centro sindical e metalúrgico do Brasil na época. Sua atuação iniciou-se no Brasil nos anos 40 e 50.
Um agente da CIA e da AIFLD, conhecido como Serafino Romualdi, fervoroso anticomunista, foi um dos primeiros líderes a entrar em contato com sindicalistas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Sua principal preocupação era a suscetibilidade dos trabalhadores brasileiros à ideologia comunista. Em seus primeiros escritos sobre a situação política no Brasil, ele afirmou:
"Se os líderes não comunistas não mudarem suas políticas e seus métodos, os comunistas poderão vencer a batalha pelo controle do sindicalismo brasileiro".
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), Romualdi dedicou-se a estudar os acontecimentos políticos na América Latina e a estabelecer contatos com pessoas influentes, a fim de consolidar alianças com líderes sindicais e outros que aprovassem a implementação do modelo norte-americano no Brasil.
Romualdi manteve relações com o setor de inteligência do Escritório de Serviços Estratégicos (OSS) durante a guerra e, posteriormente, com a CIA, contando também com o apoio do Departamento de Estado. Durante uma de suas visitas para consolidar seu relacionamento com o movimento sindical latino-americano, criticou a política dos governos brasileiros, afirmando que “o sistema corporativista, que controla os sindicatos, foi o principal fator provocador do caos político e do desastre econômico que assolou o país”.
Foi Serafino Romualdi que confirmou posteriormente que a AIFLD havia treinado “um grupo especial de 39 participantes brasileiros” na véspera do golpe em 1964. Mas, muito provavelmente a greve de 1953 em São Paulo contra Vargas, já poderia indicar ou sinalizar que esse grupo estava envolvido na desestabilização do governo brasileiro. É possível que a atuação desses sindicalistas no movimento que os americanos reconheceram como uma “Revolução” seja resultante dessas ações, porém, de fato é que sabemos muito pouco sobre suas atividades na instalação do Regime Militar em 1964.
Mas voltando a ICT, representado por Gilbert Richmond, tinha como objetivo promover conferências, cursos, seminários e estudos sobre sindicalismo, além de outras atividades como concessão de bolsas de estudo, assinatura de convênios com instituições similares no Brasil e no exterior, e promoção de intercâmbios técnicos e econômicos entre os Estados Unidos e o Brasil. O ICT procurava não expor a relação direta do Instituto com a AIFLD. O ICT era mantido por contribuições do setor privado. Suas publicações enfatizavam o caráter democrático de suas atividades, bem como a importância de promover lideranças autênticas e comprometidas com os valores democráticos. No primeiro semestre de 1964, logo após o golpe militar, o ICT promoveu um curso de uma semana para sindicalistas brasileiros em 12 estados e 18 cidades. No mesmo ano, a terceira turma de sindicalistas paulistas se formou no curso de liderança sindical do ICT.
Naquela época, o ICT contava com o apoio do ORIT e dos ITSs. Desses cursos, o ICT selecionou os 35 melhores participantes para um treinamento intensivo de três meses em São Paulo. Ao final de 1964, mais de 100 líderes sindicais haviam se formado nos cursos de formação de lideranças do ICT/AIFLD. Assim, em dois anos, 80% dos líderes sindicais estariam preparados para implementar o “sindicalismo livre” no Brasil.
Além disso, 876 líderes sindicais participaram dos seminários regionais, outras 100 pessoas de 34 áreas urbanas diferentes participaram do curso intensivo de três meses em São Paulo, e mais 12 sindicalistas foram enviados a Washington D.C [3] para participar de um curso especializado do AIFLD. O ICT também ofereceu um curso de liderança sindical em Santos, mais dois cursos para 108 metalúrgicos em São Paulo, bem como diversos outros seminários em localidades rurais, consideradas estratégicas devido ao risco de influência comunista. Com base nesses relatórios otimistas e após o governo brasileiro apoiar a ocupação americana na República Dominicana, a USAID decidiu aumentar seu apoio financeiro ao programa AIFLD no Brasil.
Na década de 1970, a AIFLD percebeu que não era possível realizar mudanças substanciais no sistema trabalhista corporativista brasileiro. Nessas circunstâncias, é razoável argumentar que a AFL-CIO considerou que ainda seria vantajoso para seus interesses manter o escritório da AIFLD em funcionamento como forma de analisar os desenvolvimentos econômicos e políticos no Brasil. A série de relatórios elaborados pelos funcionários da AIFLD com a colaboração dos trabalhistas deve ter sido útil para os empregadores americanos. Um relatório escrito em 1967 pelo empresário Berent Friele, que também era membro do conselho diretor da AIFLD, afirma:
"Curiosamente, após o encerramento das atividades da AIFLD no Brasil, as reivindicações dos sindicatos brasileiros por livre negociação coletiva, pelas quais a AIFLD tanto lutara, finalmente começaram a tomar forma. O chamado Novo Sindicalismo – que surgiu após as famosas greves dos metalúrgicos de 1978-1979 – desafiou o regime militar ao exigir o retorno à democracia, maior autonomia para os sindicatos em relação ao Estado e a eliminação da interferência dos Tribunais do Trabalho na elaboração de convenções coletivas."
Para os líderes que desejavam que os sindicatos fossem mais do que administradores de programas de proteção social, a mudança lógica seria, eventualmente, tentar obter concessões diretamente dos empregadores. Essa mudança de estratégia, só começou a surgir na segunda metade da década de 1970 e, mesmo assim, os líderes sindicais inicialmente não conseguiram obter uma resposta dos empregadores. A negociação coletiva pressupõe que os trabalhadores possuam instrumentos de coerção para confrontar os empregadores — especificamente, o direito à greve. Assim, até que esse direito começasse a ser conquistado de fato com as greves dos anos de 1978, a negociação coletiva era mais discutida do que praticada, afirma o pesquisador Margareth Keck.
Só no ano de 1975, o dirigente da AIFLD, Angel Verdu, manifestou preocupação ao ser informado do fechamento do escritório brasileiro. Segundo Verdu, não havia motivo para o fim das atividades, visto que os resultados do programa pareciam bastante positivos. Desde 1963, mais de mil sindicalistas brasileiros haviam participado de cursos realizados no ICT, em São Paulo, e outros 30 mil trabalhadores haviam participado de oficinas regionais. Entre os anos de 1963 e 1974, 279 sindicalistas se formaram no Instituto Front Royal. Além disso, ele destacou os 225 projetos financiados pela Aliança para o Progresso, que totalizaram um investimento de US$ 575 mil dólares no Brasil. De acordo com Verdu, 75% dos formados pela AIFLD tinham entre 20 e 35 anos, eram atuantes no movimento sindical e, portanto, representavam um bom prognóstico para a implementação do “sindicalismo empresarial” entre os futuros líderes sindicais, esse movimento visava uma articulação clara, fragmentar, destruir o então trabalhismo brasileiro incipiente, o restante eu deixo para vocês refletirem um pouco...
Fontes:
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Ciência Política Vol.1 e 2 - Nova edição atualizada. Ed. UnB. 2024. 1563p.
DREIFUSS, René Armand. 1964. a conquista do Estado: Ação política, poder, e golpe de classe. Ed. Vozes. 2006. 900p.
DREIFUSS, René Armand. Internacional Capitalista: estratégia e táticas do empresariado transnacional (1918 - 1986). Ed. Espaço e Tempo. 1987. 502p.
JUNIOR, Robert Anthony Waters, et al. America Labors Global Ambassadors. The International History of the AFL-CIO during the Cold War. Springer. e-book. 2013. Disponível em: < https://link.springer.com/book/10.1057/9781137360229>. Acesso em: 10 nov. 2025.
LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (orgs). Dicionário gramsciano. Ed. Boitempo Editorial. 2017. 832p.
MINCHIN, Timothy J. Labor under fire: A history of the AFC-CIO since 1979. Ed. Univ of North Carolina Pr . English. 2017. 414p.
Notas de Rodapé:
[1] Licenciado em História pela UCSAL.
[2] Termo que se refere ao período de governo da ex-União Soviética exercido por Josef Stalin. O stalinismo não chega a ser uma teoria, uma vez que não articula de forma sistemática ou original determinados conceitos ou princípios.
[3] Capital dos Estados Unidos da América.
%2099271-6788%20Ou%20Ligue%20(92)%203671-1374%20%2099987-4656%20Endere%C3%A7o%20Av_%20Brasil%2C%203287%2C%20Vila%20da%20Pra.png)







Comentários